MARISA RESNITZKY

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Obra!
Sinceros agradecimentos." texto da poeta Marisa Viera

compartilhado por mim, Marisa Resnitzky.

RASCUNHOS-POEMAS

A MADRUGADA ME ABRIGA,
MORRE UM POUCO DO TEMPO,
RESSUCITA EM PALAVRAS,
BUSCADAS,
RABISCADAS
EM RASCUNHOS POEMAS.

DEVAGAR VOU SENDO OUTRA
NOVA RIMADA,

ACOSTUMO QUE NADA,
SOU NOITADA NESSA MINHA EMPREITADA.

Novos Poetas

A NOITE ME VIROU,
ACESA ,
NO CLARÂO ESCURO,

SEM DESDOBRAR MADRUGADA,
JUNTEI TODAS AS ALMOFADAS
E FIZ UM ABRIGO PRA NOITE.

A NOITE ADORMECEU,
ACORDOU DIA .

PENSOU QUE AINDA ERA TARDE,
DISSE O DIA: NADA É TARDE PARA A SENHORITA,
NOITE.

FIZ
UM ACORDO COM A POESIA

A poesia VEM NOS MEUS SONHOS,
dormindo acordada,
me dorme, me afaga, me sonha...

Acordo e lembro do acordo,
vou buscar na madrugada,
o sono que trouxe a poesia,

poesia que me
dorme, me afaga e me deixa acordada...

o esforço do poema é quase
sagrado !

Tem poemas que " vem -que-vem ",
quase prontos,
outros precisam de um lapidada.

Antes
da captura de sua cama dura,
em segundos de viagem,
o poema se perdeu.

Estava de passagem,
foi sem comentar,
rimando sem saber pra onde.

Deixou-me sem fim.

O infinito do poema, levantou,
se vestiu
de um novo sonho,
despiu-se da antiga roupagem
e de passagem
foi capturado naquele quarto de instante,

um dèjávu,
num tempo escondido,
encontrado por ti
no último ato.

Clarice Lispector

ESTAÇÂO DA POESIA

A IDÉIA,
UM AVIÂO SUPERSÔNICO,
POUSA.

PERDE O FREIO, O PENSAMENTO:

SILENCIO NO ÚLTIMO VAGÂO,

TUDO JAZZ NA SUA ESTAÇÂO.

- HEI !

ESTAMOS NA ERA EM QUE
EM PLENA PRIMAVERA,
JÁ NÂO HÁ MUITA VERDADE.

EM MEIO À NOBREZA,
NÂO ENCONTRO BELEZA,

SÓ SUJEIRA , HIPOCRISIA
FEDENDO A AVAREZA.

A POBREZA DESTRUÍDA,
COM O POUCO QUE TEM.

O PALÁCIO FREQUENTADO
POR UM PÉSSIMO " REI ",

NÓS AQUI, BOBOS DA CÔRTE,
- QUE POVO SEM LEI !

O TONTO E O ÔCO

O TONTO BARROCO 'A BEIRA DO ABISMO,
ODEIA OS CONTORNOS,
MASSACRA OS LIMITES.

O ÔCO TRAZ O CONTORNO,
HORIZONTES E TONS.

O TONTO MISTURA E SE EMBRIAGA
VERTIGEM NO NADA.

O ÔCO SEGURA E NÂO SOLTA,
NÂO SENTE, SÓ MOLDA,
SOLDA AS FORMAS,
AS LINHAS DAS VINDAS
DE OUTRAS CHEGADAS.

JOGO DO ACASO

SE OS DADOS DA SORTE
É O ACASO QUEM LANÇA,

ME APRESSO, ARREMESSO,
PRA NÂO TE PERDER.

O JOGO DO ACASO
É FEITO DE ENCONTROS,

EU JOGO COM TUDO,
ME LANÇO NO ESCURO,
DESCARTO O PASSADO,
ROMPENDO O FUTURO

VENCENDO NO JOGO
ERRANTE DO AMOR.

BECO DAS CORES

OLHOS E BOCAS COLOREM
OS BECOS DE ARRAIAL,

BRINCAM NA MADRUGADA,
DANÇAM, SE BEIJAM ,
SE É CARNAVAL.

NO BECO DAS CORES
SENTO `A MESA DE UM BAR,
DUAS TEQUILAS COM LIMÂO E SAL.

BURACO LOUCO,
UM COPO DE CHUVA,
BATIDAS, SUOR E BELEZA,

SABOR DE MAR NO CORPO,
ALIMENTA O POETA,
A BRISA DO MAR,
A DANÇA DAS SUAS CORES,

DOUTORES,
NÂO ESQUEÇAM DE LEMBRAR:
TUTU PRA QUEM NÂO TEM CAVIAR !

PALAVRAS, ENTREATOS

MOMENTOS RAROS,
SÓLIDAS MANHÂS,

PALAVRAS
ENTRE ATOS
QUE DEIXAMOS ESCAPAR.

QUANDO A GENTE SE DEIXA DEITAR,
NOITES EM CLARO,
PULSAM PAIXÔES,

MÂOS QUE DESLIZAM CORPOS,
OLHOS QUE COMEM SEM TOCAR,

PALAVRAS ENTRE ATOS
QUE DEIXAMOS ESCAPAR.

DUOS QUE DANÇAM SEM AS CANÇÔES,
PERCORREM LABIRINTOS,
INFINITAS SENSAÇÔES...

SEM PALAVRAS,
ENTREATOS,
SEM PAPÉIS,
SEM DIREÇÂO.

NUAS CORES

SEDE LEVA PRA LONGE,
A VONTADE SE ESCONDE,
PROCURO NO TEMPO...

A ESTRADA TE INUNDA,

MIRAGEM,

MERGULHO DO OLHAR,

SUA ALMA SE INSINUA
EM SOMBRAS,
NUAS CORES,

SEDE, VONTADE,
O VENTO VEM
SEM TEMPO PRA TE BUSCAR.

MUNDOS DE FILOSOFIA

EM DESERTOS,
TEMPOS,
OCEANOS, VIAJAMOS,

O DEVIR É POESIA,
É A MÚSICA QUE TOCA.

AS ESTRADAS SE BIFURCAM,
INVENTAMOS NOVOS VENTOS,

OS INSTANTES SÂO INTENSOS,
LOUCAS BOCAS QUE SE BEIJAM.

NOSSOS CANTOS,
LABIRINTOS, DÉJÀVIS,
VÔOS RAZANTES.

VEM SOANDO NOSSO ROCK,
NA BALADA , NOSSO POP,

COLORIDOS HORIZONTES,
VERSOS DE RARAS PAIXÔES.

OS OLHARES QUE SE DESPEM,
INCENDEIAM EM TEMPESTADE.

ESTAÇÔES E VÍCIOS SÂO ESQUINAS DE VONTADE,

ME VICIO EM SUA BOCA,
SUA ROUPA " MARCA TOUCA ",

ME DESFAÇO E RASGO A CONTA,

SUMO ASSIM DO SEU QUADRANTE
E SÓ LEVO SEU SABOR.

DIVAGO E DESACATO

ENGULO,
ESCURO,
PERAMBULO,
VAGO.

DIVAGO,
ENGATO EM CANTO
OU EM PUNHO ATO.

DIVAGO ENQUANTO
O MUNDO MATA,

ME ENCANTO
QUANDO ME ASCENDE,
DESACATO !

ILIMITUDE

ABISMO,
VERTIGEM,

INTENSA LOUCURA,
NEM PULSÂO,
NEM ILUSÂO,

SENSAÇÂO DE ILIMITUDE,
TENTAÇÂO.

SOSSÊGO DOS LÁBIOS

SOSSÊGO DOS LÁBIOS,
VIRGENS, SÂOS,

QUE PONTAS DE DEDOS TOCAM,
DESEJOS SE AFOGAM,

NEGRAS TECLAS,

TOTAL SOLIDÂO !

ACASO DESCALÇO

POR ACASO,
DESCALÇO,
SEM CAUSA,
SEM CALÇA.

CAUSA,
SE CASA,

CASO,

DESCASA,

SEM CASA,

DESCASO DO CASO,
CALÇA E SE VAI...

POESIA INFINITA

GASTO AS PALAVRAS ATÉ SECAR O PORTUGUÊS,

AURÉLIO, MEU MELHOR AMIGO,
REPOUSA 'A MINHA ESPERA.

A DANÇA DA RIMA ,
ME TIRA " PRA " DANÇAR,

MEU PAR-POESIA,
CHÁ DE CADEIRA , NEM PENSAR!

DÉJÀ VU

DÉJÀ VU MANHÂ ASSIM,
SILÊNCIO DE FOLHAS SECAS,
CHEIRO DE CHUVA QUE VAI CHEGAR.

VOZES ROUCAS
DESCANSAM DA NOITE.

SONO,
MANHÂ CHEGANDO,
LUZ DA VARANDA,

ACORDE PERFEITO
DE SOL E DE LÁ.

LÁ, ONDE O VENTO LEVA,
ADORMEÇO E VOLTO A SONHAR.

TEMPOS

TEMPO ARISTOTÉLICO,
PRESENTE, PRETÉRITO E FUTURO.

TEMPO INFINITIVO, DO DISCURSO,
DO PERCURSO,
TEMPO ESCURO.

TEMPO COMPASSADO,
CRONOLÓGICO,
TEMPO LÓGICO.

CHUVA, SOL E VENTO,
TEMPO DO ACONTECIMENTO,

TEMPO DA VERDADE,
DA VONTADE, DO MISTÉRIO E DA VAIDADE.

TEMPO, TEMPO, TEMPLO DA BELEZA,
DA CHEGADA E DA CERTEZA,

TEMPO INTUITIVO,
INTEMPESTIVO E ABSURDO,

TEMPO DA POESIA,
TEMPO DE POESIA,
TEMPO DE LEVEZA.

PALAVRAS NUAS

ACESA CHAMA,
ADENTRA,
ARDENTE ENTRANHA.

SEM TE TER,
PALAVRAS NUAS DA MINHA POESIA
CARREGAM UM DEVIR,
ALMAS ESCONDIDAS VÂO SURGIR.

VOU TE TER,
QUERER DOR E PRAZER,
ASCENDER A TRAMA,
TRANSCENDER.

SOMOS CASO,
PURO ACASO,
ACONTECIMENTO,
SEDE DE VIVER,

FICO MUDO,
IN-VOLUNTÁRIO DESNUDO,
CARNUDOS LÁBIOS
COR DO QUERER.

TÔPOESIA

CRIA, INVENTA POESIA,
MOSTRA A CARA 'A TAPA
E TÓPA.

ENTRE A LETRA E A MELODIA,
A FISSURA DO PAPEL.

COMO ÊXTASE,
MAIS QUE UM BEIJO,
UM TRECHO,
UM PARTO,
UM GOZO EM TEMPO,
TÓPAS?